Edição do
dia 04/03/2014
05/03/2014 06h56 -
Atualizado em 18/03/2014 14h26
Entenda a crise na Ucrânia
Manifestação
começou como reação indignada ao rompimento com a União Europeia e ao
estreitamento das relações com a Rússia.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e dois
líderes da Crimeia assinaram nesta terça-feira (18) um acordo para tornar a
República Autônoma parte da Rússia. O tratado foi assinado dois dias após o
povo da Crimeia aprovar em um referendo a separação da Ucrânia e a reunificação
com a Rússia. A votação foi condenada por Kiev e pela comunidade internacional,
que o considera ilegítimo.
A Ucrânia é
um país que só existe há 23 anos e resultou do esfacelamento da União
Soviética. Antes disso, ela sempre havia sido dominada por algum país ou fazia
parte de algum Estado. Hoje, o país vive uma crise econômica e política e
precisa de empréstimos urgentes para evitar uma falência estatal. Diante do
dilema de se aproximar da União Europeia ou ser parte do plano de Vladimir
Putin de construir uma União Eurasiana, a península ucraniana da Crimeia
decidiu por fazer parte da Rússia.
O presidente deposto Viktor
Yanukovich havia se recusado a assinar um acordo de livre
comércio com a União Europeia. A medida gerou descontentamento popular e
manifestações de rua, que resultaram na destituição de Yanukovich, em
fevereiro. Ele fugiu para a Rússia e deixou um país dividido: a metade
ocidental é pró-europeia, enquanto a metade oriental é ligada à Rússia.
No meio da tensão, o foco se voltou para a Crimeia, um território
ucraniano autônomo, onde a maioria da população é de origem russa. O parlamento
local foi dominado por um comando pró-Rússia, que aprovou a
adesão à Federação Russa.
A Rússia enviou tropas armadas para a Crimeia, para “normalizar a
situação”, mas o Ocidente não gostou da medida e pede recuo dos soldados, sob
ameaça com sanções. A possibilidade de um conflito armado só piorou as
relações.
Há outros pontos importantes que devem ser considerados para entender a
crise política, como o fornecimento de energia da Rússia para a Europa, os
resquícios da Guerra Fria e as tradições russa e ucraniana.
Ficou mais fácil entender agora? Aproveite e veja reportagens e
programas da GloboNews sobre o assunto.
Referendo não deve ser com
arma apontada, diz professor
(Sem Fronteiras, 14/03/2014)
(Sem Fronteiras, 14/03/2014)
Para Robert Orttung, da Universidade George Washington, o povo não está
sendo atacado. "Não há nenhuma evidência - apesar das afirmações de Putin
- que os russos estejam sob ataque na Ucrânia”, evidencia.
Na opinião de Alex Nicoll, do Instituto de Estudos Estratégicos, o
referendo já estava planejado, eles apenas mudaram a urgência. “Não é tão
repentino porque reflete as coisas que estão acontecendo há muito tempo. A
Crimeia mudou de mãos muitas vezes”, diz.
Reprise da Guerra Fria, diz
Lampreia
(GloboNews Painel, 08/03/2014)
(GloboNews Painel, 08/03/2014)
A crise na Ucrânia tem sido descrita na imprensa internacional como uma
das mais perigosas em pelo menos uma geração. Para o diplomata Luiz Felipe
Lampreia, a tensão é uma reprise da Guerra Fria: "A Rússia recuperou sua
força, prestígio e está procurando mostrar isso na sua fronteira, que não vai
aceitar de forma alguma que o Ocidente se meta naquilo que ela acha que é área
de influência dela".
Antes do referendo, Demétrio Magnoli, acreditava que Vladimir Putin
deveria decidir por não anexar a Crimeia ao território russo. "Anexação da
Crimeia é trunfo imediato, mas derrota histórica", opinou.
Questão energética pode ser
decisiva
(Sem Fronteiras, 06/03/2014)
(Sem Fronteiras, 06/03/2014)
Ao longo desse embate, o que aparece como pano de fundo é a questão da
energia - petróleo e gás -, que pode acabar tendo um peso decisivo nos rumos e
no desfecho da crise.
Só a Alemanha, por exemplo, depende da Rússia para manter o fluxo de 43%
do gás que o país precisa. Vladimir Putin sabe disso e já adotou a estratégia
do corte outras vezes. Nada o impede que lance mão dessa jogada de novo.
Erro de cálculo de Obama
(Sem Fronteiras, 06/03/2014)
(Sem Fronteiras, 06/03/2014)
Para Ian Bremmer, um dos analistas geopolíticos mais influentes dos
Estados Unidos, o presidente Barack Obama cometeu um erro ao entrar de forma
incisiva nas negociações sobre a crise na Ucrânia. “Os EUA precisam entender
que Putin vê essa questão 100% em término de Guerra Fria”, diz o fundador do Eurasia
Group.
Também há divisão na Crimeia
(Sem Fronteiras, 28/02/2014)
(Sem Fronteiras, 28/02/2014)
Até mesmo na capital da Crimeia há confrontos entre a população de
origem russa, contrária à mudança de governo em Kiev, e a minoria étnica dos
tártaros.
“A Crimeia é a região mais perigosa. Não é simples, até mesmo na
Crimeia. Há os tártaros da Crimeia que foram deportados para a Ásia Central por
Stalin. Muitos morreram no caminho. Só puderam voltar para a terra ancestral
deles em 1991, com a independência da Ucrânia. Eles não gostam da Rússia e são
uma parte importante da população da Crimeia”, explica o analista Ian Bond,
Centro Europeu de Reforma.
“Os russos étnicos são maioria por lá, mas acho que seria perigoso e desestabilizador a Crimeia tentar se separar do resto da Ucrânia”, afirma Bond, que não descarta a possibilidade de separação acontecer. “É provável, mas não seria inteligente”.
“Os russos étnicos são maioria por lá, mas acho que seria perigoso e desestabilizador a Crimeia tentar se separar do resto da Ucrânia”, afirma Bond, que não descarta a possibilidade de separação acontecer. “É provável, mas não seria inteligente”.
Cronologia da violência
(Sem Fronteiras, 30/01/14)
(Sem Fronteiras, 30/01/14)
A Ucrânia é um país com 46 milhões de habitantes, com uma fronteira de
um lado colada à Rússia e do outro ao extremo leste europeu. Os 17% dos
habitantes que são russos formam mais da metade da população do leste, ondes
estão concentradas as riquezas e o parque industrial do país. A outra metade,
cerca de 46%, sofre uma nostalgia da Europa.
A cronologia da violência que levou o país às portas de uma guerra civil
começa em 21 de novembro, com a recusa de última hora do então presidente
Viktor Yanukovich em assinar um acordo de livre comércio com a União Europeia.
Chamado a Moscou na véspera, Yanukovich se alinhou a uma proposta mais generosa
de Vladimir Putin: US$ 15 bilhões investidos em infraestrutura e tecnologia de
ponta mais US$ 2 bilhões anuais em abatimento no preço do gás que a Rússia
fornece e do qual a Ucrânia é totalmente dependente.
Crimeia é ponto estratégico
russo
(Jornal GloboNews, 03/03/2014)
(Jornal GloboNews, 03/03/2014)
A Crimeia tornou-se foco de tensão entre Rússia e Ucrânia porque a
região nunca pertenceu propriamente à Ucrânia, mas durante a Guerra Fria, ela
foi anexada, porque a União Soviética controlava tanto a Ucrânia quanto a
Crimeia, explica o cientista político e professor de relações internacionais de
Escola Superior de Propaganda e Marketing Heni Ozi Cukier. E hoje, a maioria da
população da Crimeia é de origem russa.
“É um ponto estratégico para os russos, porque você tem uma base naval
importante, onde está a frota do mar de saída para o Mar Negro. Para os russos
controlarem a Crimeia, é muito fácil. A pergunta-chave é: onde os russos vão
parar? Será que eles vão se satisfazer em anexar a Crimeia ou ajudar sua
independência, ou vão partir para outras partes da Ucrânia, principalmente o
leste, que está muito mais aliado à Rússia?”, questiona.
Revolução
Laranja denunciou fraude nas eleições para presidente em 2004
(Sem Fronteiras, 19/12/13)
(Sem Fronteiras, 19/12/13)
Essa é a segunda vez em tempos recentes que os ucranianos protestam em
massa contra o governo. Em 2004, o movimento conhecido como Revolução Laranja
denunciou fraude nas eleições para presidente naquele ano, praticada justamente
pelo atual ocupante do cargo, Viktor Yanukovitch. Os manifestantes já acusavam
o governo de ligações estreitas demais com Moscou e exigiam novas eleições.
Um segundo pleito levou à vitória de Viktor Yuschenko e sua então aliada
Yulia Timoshenko como primeira-ministra. Mas os dois acabaram brigando. O novo
presidente não se mostrou capaz de resolver os problemas econômicos do país e
acabou perdendo o cargo três anos depois, quando Yanukovitch saiu vitorioso das
urnas. Timoshenko foi acusada de corrupção, julgada e condenada à prisão.
FONTE: CRISE NA UCRÂNIA - G1
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