quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Artigo para reflexão: Drogas e a Escola

Drogas e a Escola - para reflexão
Por Professor Pedro Alexandre de Souza Campos*
Quando me foi pedido para escrever este artigo fiquei me perguntando sobre a maneira como deveria abordá-lo. Em se tratando de um educador como eu há mais de 18 anos de carreira, pude ter opções de abordar o assunto. Poderia ser rude endemonizando a situação. Ou poderia ser mais cauteloso, ao mesmo tempo, alertando sobre o perigo do uso de drogas. Optei pela segunda ideia.
Recentemente, a Síria vem passando momentos difíceis que estão culminando em uma guerra civil. Toda guerra é prejudicial, menos para aqueles que fornecem os subsídios para que aconteça. Houve inclusive a ameaça de armas químicas de destruição em massa que fará os Estados Unidos, retaliar tal atitude dos grupos sírios extremistas.
As armas químicas utilizadas numa guerra civil como essa, matam milhares de pessoas de uma vez. No Vietnã, durante a década de 1960-1970, naquela guerra estúpida e desnecessária, os Estados Unidos, o mesmo que combate o uso de armas químicas na Síria hoje, usou Napalm para dizimar milhares de vietnamitas.
Se essas drogas matam instantaneamente as pessoas, o que dirá a indústria da arma química mais poderosa e ofertada aos nossos jovens nas portas das escolas? Aquela “maconhazinha”, aquele “pozinho”, que parecem inofensivas, mas que vão matando aos poucos. Não apenas o usuário, mas a família padece lado a lado, morre junto. Diferente das armas que destroem rapidamente as pessoas, o consumo de drogas dizima lentamente.
O que dizer então do comércio por trás do consumo? Existe o mercado. Afinal, a relação oferta x demanda é que movimenta o capitalismo. O tráfico supera em organização muitas entidades oficiais e “limpas”. Alicia menores para inserir pequenas doses nas escolas, como eu mesmo já presenciei. Promove o medo para calar as famílias. Pratica justiça com as próprias mãos. Ah essa justiça! Prefiro nem atrever-me a ir por essa seara de impunidade que fomenta ainda mais as atitudes ilícitas.
Como professor da rede estadual e particular de ensino, já vi muita coisa acontecer debaixo dos meus olhos. Ontem mesmo, na porta de uma escola que leciono em Rio Grande da Serra, vi três alunos do ensino médio consumindo um “baseado” sem se preocupar com quem estava ao seu redor. Quero continuar me espantando com isso, embora minha reação fosse apenas ignorar, como tantos outros fazem. Tenho medo também. Não tenho peito de aço. Fico indignado, constrangido, e ao mesmo tempo impotente diante da situação. E vejo que o consumo de drogas na escola, em festas e baladas é cada vez mais comum e afeta todos os níveis sociais. Na segunda feira pela manhã e à noite, os primeiros comentários são os mesmos. Quem bebeu demais e acordou vomitado em praça pública, ou deu vexame com as pessoas, quem cheirou o quê, fumou o quê. Ouço isso discretamente enquanto organizo meu material, faço a chamada de presença. Fico bestificado quando sei dos alunos mais aplicados envolvidos em situações como essas.
Não quero ser piegas, nem defender o discurso moralista. Porém, é dentro de casa que acaba dando início ao processo de inserção do jovem no caminho das drogas. O estereótipo de que somente famílias pobres têm filhos nas drogas é pura mentira. São muitos os casos de famílias de classe média e alta que tem seus membros no universo das drogas. Segundo pesquisa realizada em setembro de 2012 pelo INPAD – Instituto Nacional de Políticas Públicas sobre Álcool e Outras Drogas “mostra que o Brasil tem 2,6 milhões de usuários de crack e cocaína, sendo metade deles dependente (1,3 milhão). Deste total, 78% cheiram a substância exclusivamente (consumida na forma de pó); 22% fumam (crack ou oxi) simultaneamente e 5% consomem apenas pelos cachimbos, que já viraram marcas registradas das áreas degradas e conhecidas como cracolândias.” [1].
Já em pesquisa realizada em 2012 pelo LENAD – Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, realizado pela UNIFESP – Universidade Federal de São Paulo, mais de 1,5 milhão de adolescentes consomem maconha diariamente no país[2].
Portanto, a realidade do consumo, uso e dependência química das drogas legalizadas ou não se tornam cada vez mais presentes nas famílias brasileiras. Na Europa os indicadores vêm diminuindo, mas o Brasil por estar crescendo economicamente, e ser muito populoso “passou de passagem para destino das drogas”.[3]
As políticas públicas de prevenção e combate à venda e ao consumo de drogas “licitas” e ilícitas ainda são tímidas. Ações voltadas pra a educação formal, escola em período integral, inserção e qualificação profissional para o mercado de trabalho, são medidas que podem dirimir a presença de drogas nas famílias. Trabalho esse realizado pela equipe da jornalista Izilda Alves na “Campanha Jovem Pan pela vida, Contras as Drogas”, que é de fundamental importância para os jovens perceberem que o fundo do poço está bem mais próximo do que imaginam. O depoimento de jovens como meus alunos que tem a coragem de abrir-se e contar suas experiências de como mundo das drogas assusta, e os faz refletir sobre como lidar com essa realidade. Apesar de a oferta ser abundante, nossos jovens precisam a aprender a dizer NÃO para aquilo que eles sabem que podem leva-los à ruína.

*Professor Pedro Alexandre de Souza Campos – Geógrafo
Professor do Centro Educacional ETIP- unidade Parque das Nações - Santo André e da Rede Estadual de Ensino do Estado de São Paulo.

Um comentário:

  1. Basicamente, as drogas é um tema abordado desde... Sempre, e por mais que a generalização de que só as famílias pobres se envolvem nisso é basicamente mostrado que filhos de pais ricos também são influenciados, os jovens como sempre são muito maleáveis, fácil de mudar de ideia e bem mais fáceis de cometer erros, eu sou filha, e sei que basicamente o problema começa em casa, a vida família entre, pai, mãe, filho é importante, se haver comunhão entre eles, se haver uma comunicação direta limpa e amigável, é muito provável que não haja esse problema com as drogas, o mais interessante nisso tudo é que o jovem não percebe a consequência de seus atos... "É só uma vez, nada mais, não vou morrer se eu experimentar." "Não quero parecer careta na frente dos meus amigos." "Não quero que me zoam" "Depois que eu cheirar ou fumar uma vez, eles me respeitam" basicamente é isso que passa na nossa mente, mas as vezes, e de repente, de uma hora para a outra a pessoa vira um dependente químico que até os próprios pais desistem do filho. Parece estupido, mas é questão de escolha, você quer ser uma coisa que você a principio não é, e depois aquela mentira que você quer ter como realidade vira verdade é tarde de mais.

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